Fotos: Gilson Camargo
"A fala faz o mundo descortinar-se diante de mim como um pomar. Como é bom ouvir palavras e sons! (...) Não foram os nomes e os sons dados as coisas para o homem se recrear com elas? Falar é uma bela loucura: Falando, o homem dança sobre todas as coisas!"
FRIEDRICH NIETZSCHE
Uma carta de Fernando Pessoa ao seu amigo Casais Monteiro explicando a origem dos seus heterônimos é o fio condutor de A Pequena Humanidade de Um Fernando Pessoa. Entremeada por poemas e prosas de Ricardo Reis, Álvaro de Campos e Alberto Caeiro a Peça-Recital é um passeio pela poesia, pensamento, temperamento e genialidade de Pessoa e dos personagens que criou. O roteiro foi concebido de modo a permitir ao não iniciado o perfeito entendimento do fenômeno da heteronímia e ao iniciado o reencontro com algumas pérolas da produção pessoniana. A proposta de encenação tem como fundamento os modos teatrais que Hans-Thies Lehmann denomina teatro pós-dramático e em particular as reflexões de Pier Paolo Pasolini sobre o rito cultural e expostas em seu Manifesto Por um Teatro da Palavra.
A perspectiva da proposta é retomar a tradição do ator-narrador grego, i.é, o aedo e suas ferramentas: a poesia, a récita, o canto, a música, a imitação e a ágora de modo a reencotrar um quasi teatro ou um teatro para os ouvidos!
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Antecedentes da montagem
Três anos depois acrescentou-se aos poemas a prosa que recupera a origem e o sentido da heteronímia; o que conferiu fundo dramatúrgico ao Recital. Por ocasião desta mudança, passamos a denominá-lo Peça-Recital e estreamos este novo formato em evento de teatro e literatura promovido pelo ACT – Atelie de Criação Teatral - em Curitiba, em setembro de 2007.
Concepção – A Peça-Recital
"O teatro da palavra não possui nenhum interesse espetacular, mundano, etc: o seu único interesse é o interesse cultural, comum ao autor, aos espectadores, os quais, quando se reúnem, exercitam um 'rito cultural'."
(Pier Paolo Pasolini, Manifesto Por Um Teatro da Palavra)
Trata-se de um diálogo entre música instrumental e som da fala. Um jovem espectador ao sair de uma das apresentações/laboratório da peça-recital ofereceu-nos a chave do projeto. Ele disse: não sabia que era possível ouvir teatro. É isto, teatro para os ouvidos.
A peça-recital é um meio, ou um "quase", no sentido em que Helio Oiticica empresta para o seu quasi cinema. É justamente neste não lugar, neste não-teatro que o projeto busca um contato novo e íntimo com o público; um lugar menos convencional e previamente estabelecido. Onde a relação tem primazia; a presença tem lugar. O teatro não como um espetáculo que se impõe mas com uma relação que se insinua, se oferece, para que o público o descubra, o deseje e o construa enquanto teatro. Enfim, a instauração de um rito cultural pela e para e exploração das interfaces, das relações entre:
Texto & música;
poema & prosa;
texto biográfico real - vida & texto biográfico ficcional - arte;
interpretação & récita;
ator & personagem;
ator & músico;
som & palavra;
e por fim,
palco & platéia.
Ficha Técnica
Textos: Fernando Pessoa
Músicas: Johann Sebastian Bach, Fernando Sor, John Dowland e Octávio Camargo.
Concepção/Roteiro: Louri Santos
Direção Musical da versão ator & Músico: Octávio Camargo
Trilha sonora selecionada para versão solo: Edith de Camargo
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